JOÃO
PESSOA - A barreira de corais na frente de praticamente todos os 25 quilômetros
de litoral de João Pessoa levou a uma curiosa forma de colonização: durante
quase quatro séculos a cidade cresceu e se desenvolveu "de costas para
o mar". É que os portugueses que lá chegaram, em 1585, não conseguiram
aportar pelo oceano.
Descobriram,
então, a foz do Rio Paraíba e resolveram fundar a cidade por ali mesmo.
Tudo, a partir de então, se desenvolveu em função do rio. Somente nos anos
1970 as construtoras começaram a desbravar os caminhos do mar e a urbanizar
essa parte da capital, antes região de acampamentos, de difícil acesso.
Só
por essa história já vale o passeio pelo centro histórico de João Pessoa.
Comece, então, pelo melhor: o conjunto barroco formado pelo Convento de
Santo Antônio, pela Igreja de São Francisco e por seu impressionante
cruzeiro. Antigo convento de franciscanos, o complexo religioso começou a
ser construído em 1589 e levou praticamente 200 anos para ficar pronto.
Lá
dentro há um belo acervo de arte sacra dos séculos 18 e 19. A maioria das peças
foi esculpida em madeira policromada. Preste
atenção à imagem de Nossa Senhora do Rosário, do século 17. A obra foi encontrada
durante a restauração do prédio - que ficou fechado entre 1979 e 1990. Os
ingressos custam R$ 3, com direito a tour guiado.
A
história da igreja, atualmente tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é contada
pelo caminho, nas peças de pedra calcária encontradas durante a restauração
e expostas aos visitantes. Para abreviar: construída pelos franciscanos,
foi quase destruída durante a invasão holandesa (1634-1654), cujo exército
usou o lugar como forte.
De
volta à congregação, foi ampliada e, por isso, cômodos
como a capela dourada, a casa de oração, o claustro e a sacristia datam do
século 18. Fechada por mais de uma década, hoje abriga o Centro Cultural
São Francisco.
Há,
ainda, um museu de arte popular, que guarda mais de mil peças em seu
acervo, com obras representativas de todas as regiões do País. O complexo
fica na Praça São Francisco, s/n.°; (0--83)
3218-4505. Funciona de terça-feira a domingo, das 9 às 12 horas e das 14 às
17 horas. Anote na agenda: vale a pena visitá-lo.
Primeiros passos
Talvez
seja impossível entender as idiossincrasias locais sem uma parada na Praça Anthenor Navarro, coração do centro histórico. Lá está
a maior parte dos prédios restaurados da cidade - trabalho feito por jovens
carentes com recursos de uma parceira entre o Estado e o governo espanhol.
A recuperação começou nos anos 80, quando a área estava totalmente
degradada.
Repare
no primeiro prédio restaurado, do Hotel Globo, o precursor da cidade,
atualmente sede do Consulado da Espanha. Datado de 1929, o lugar serviu de
palco para grandes discussões da época, até a década de 50, quando parou de
funcionar. Hoje, é, assim como toda praça, tombado pelo Patrimônio
Histórico e Cultural do Estado.
A
poucos passos do hotel, a Igreja São Frei Pedro
Gonçalves, do fim do século 19, igualmente abandonada e fechada, ganhou uma
bela repaginada e reabriu em 2002. Durante a
restauração, foram encontrados vestígios de uma capela, possivelmente do
século 17, expostos dentro da igreja.
Um
simples giro pela região, porém, deixa evidente que ainda falta muito a ser
feito. Na área conhecida como Porto Capim, onde tudo começou, muitos
prédios históricos sofrem com a ação do tempo e acabaram virando alvo de
ocupações irregulares. Os primeiros e longos passos, no entanto, já foram
dados...