18 de abril de 2006 - 10:52

Renovada, João Pessoa convida a entoar o pôr-do-sol


Balneários cristalinos, culinária de primeira, artesanato original e Ravel ao entardecer. Tudo na área urbana

Ana Carolina Sacoman

JOÃO PESSOA - Anote alguns dos clichês que você vai ouvir sem parar durante toda a estada em João Pessoa: segunda cidade mais verde do mundo - só perde para Paris; ponto mais oriental das Américas e, portanto, o lugar que recebe os primeiros raios de sol no continente; terceira cidade mais antiga do País, blablablá. Esqueça. A capital da Paraíba não precisa dessas credenciais. É linda. Ponto. E, digamos, vale o ingresso. Veja:

O mar sempre morno ganha, neste trecho do Nordeste, um tom verde-transparente até mesmo nas praias urbanas, todas limpas, garantem os guias de turismo. A culinária, com um pé no mar e outro no sertão, conquista em poucas garfadas. O forró embala os turistas, o artesanato é primoroso e até o provincianismo da capital ganha certo charme com o passar dos dias.

Projetos pipocam aqui e ali: de restauração, de resgate do artesão, de grandes resorts, de roteiros integrados... Alguns estão adiantados; outros ainda são uma realidade distante. Todos têm um objetivo em comum: fisgar o turista que, encantado com os cenários de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, simplesmente deixa em segundo plano a terra do poeta Augusto dos Anjos (1884-1914). Pecado.

Preste atenção

Para corrigir esse "desvio de percurso", é bom levar algumas coisinhas em conta. Tenha em mente, por exemplo, que João Pessoa dorme e acorda cedo - sim, aquela história do ponto mais oriental das Américas é verdade e atende pelo nome de Ponta do Seixas. Conseqüentemente, às 5 horas já é dia claro e, às 18 horas, quase noite alta. Não é um lugar para quem gosta de esticar a manhã na cama. Levante cedo para aproveitar o dia.

É bom, também, verificar como está a maré antes de seguir viagem. Dois dos principais pontos turísticos da capital e arredores "funcionam" somente na maré baixa: as piscinas naturais de Picãozinho, em João Pessoa, e de Areia Vermelha, em Cabedelo.

Em ambas é possível nadar com peixinhos multicoloridos, com ou sem snorkel. A apenas um quilômetro da Praia do Poço, no litoral norte, a piscina de Areia Vermelha tem dois quilômetros de extensão e os passeios duram, em média, quatro horas. Para ir até lá, o turista paga R$ 12 em barquinhos contratados ali mesmo na praia. Pelas agências, sai por R$ 30 por pessoa, com direito a traslado do hotel até a areia.

A de Picãozinho fica na frente do hotel Tropical Tambaú, um dos símbolos arquitetônicos - meio esquisito - de João Pessoa. Funciona no mesmo esquema e custa R$ 20 e R$ 35, respectivamente. As agências locais também organizam passeios noturnos, com luau.

A viagem está programada para a maré alta? Sem problemas. As praias do litoral sul são espetaculares, verdadeiras piscinas de água salgada, perfeitas para crianças. As do lado norte também não deixam a desejar, mas têm ondas mais fortes, indicadas para os surfistas.

Pôr-do-sol

Cansou do mar? Reserve um dia para conhecer a curiosa história da fundação de João Pessoa, que já nasceu cidade, ou seja, nunca passou pela condição de "vila", e os prédios restaurados do centro histórico. O projeto já dura uns 20 anos, mas a sensação é de que há muito ainda a fazer.

Para fechar um dos dias da estada, faça um passeio diferente, na Praia do Jacaré. Fluvial, fica às margens do Rio Paraíba, em Cabedelo, a 12 quilômetros de João Pessoa. Todos os dias, no pôr-do-sol (às 17 horas nesta época do ano), Jurandy do Sax entoa o Bolero de Ravel num barquinho durante 40 minutos, até chegar ao restaurante Brasilis, um dos sete localizados na praia.

Jurandy pleiteia a entrada no Guinness Book, o Livro dos Recordes, como o músico que mais vezes tocou a composição de Maurice Ravel (1875-1937) em público. O processo está em andamento. "Toco o ano inteiro. Se viajo, toco onde estou", diz Jurandy.

A apresentação, que já dura sete anos, deu tão certo que o músico "ganhou" um clone, o Arnaud, que se apresenta acompanhado de um violino e chega de barco até o restaurante Golfinho. É, digamos, uma atração para turista ver, mas, se depender da empolgação dos visitantes durante a apresentação número 2.109 de Jurandy, na semana retrasada, e da prefeitura, que tombou o pôr-do-sol da Praia do Jacaré, vai continuar um sucesso. Só para lembrar, os artistas cobram R$ 3 de couvert artístico por pessoa.

Para que você não perca nenhum atrativo de vista, preparamos, nas próximas páginas, um roteiro por João Pessoa e pelas vizinhas Conde, no litoral sul, e Cabedelo, rumo ao norte. Aproveite para corrigir uma injustiça histórica com um dos mais belos e desconhecidos pedaços do litoral nordestino.

Viagem feita a convite da Prefeitura Municipal de João Pessoa