JOÃO
PESSOA - Anote alguns dos clichês que você vai ouvir sem parar durante toda
a estada em João Pessoa: segunda cidade mais verde do mundo - só perde para
Paris; ponto mais oriental das Américas e, portanto, o lugar que recebe os
primeiros raios de sol no continente; terceira cidade mais antiga do País, blablablá. Esqueça. A capital da Paraíba não precisa
dessas credenciais. É linda. Ponto. E, digamos, vale o ingresso. Veja:
O mar
sempre morno ganha, neste trecho do Nordeste, um tom verde-transparente até
mesmo nas praias urbanas, todas limpas, garantem os guias de turismo. A
culinária, com um pé no mar e outro no sertão, conquista
em poucas garfadas. O forró embala os turistas, o artesanato é primoroso e
até o provincianismo da capital ganha certo charme com o passar dos dias.
Projetos
pipocam aqui e ali: de restauração, de resgate do artesão, de grandes resorts, de roteiros integrados... Alguns estão
adiantados; outros ainda são uma realidade distante.
Todos têm um objetivo em comum: fisgar o turista que, encantado com os
cenários de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, simplesmente deixa em
segundo plano a terra do poeta Augusto dos Anjos (1884-1914). Pecado.
Preste atenção
Para
corrigir esse "desvio de percurso", é bom levar algumas coisinhas
em conta. Tenha em mente, por exemplo, que João Pessoa dorme e acorda cedo
- sim, aquela história do ponto mais oriental das Américas é verdade e
atende pelo nome de Ponta do Seixas. Conseqüentemente, às 5 horas já é dia
claro e, às 18 horas, quase noite alta. Não é um lugar para quem gosta de
esticar a manhã na cama. Levante cedo para aproveitar o dia.
É
bom, também, verificar como está a maré antes de seguir viagem. Dois dos
principais pontos turísticos da capital e arredores
"funcionam" somente na maré baixa: as piscinas naturais de
Picãozinho, em João Pessoa, e de Areia Vermelha, em Cabedelo.
Em
ambas é possível nadar com peixinhos multicoloridos, com ou sem snorkel. A apenas um quilômetro da Praia do Poço, no
litoral norte, a piscina de Areia Vermelha tem dois quilômetros de extensão
e os passeios duram, em média, quatro horas. Para ir até lá, o turista paga
R$ 12 em barquinhos contratados ali mesmo na praia. Pelas agências, sai por
R$ 30 por pessoa, com direito a traslado do hotel até a areia.
A de
Picãozinho fica na frente do hotel Tropical Tambaú,
um dos símbolos arquitetônicos - meio esquisito - de João Pessoa. Funciona
no mesmo esquema e custa R$ 20 e R$ 35,
respectivamente. As agências locais também organizam passeios noturnos, com
luau.
A
viagem está programada para a maré alta? Sem problemas. As praias do
litoral sul são espetaculares, verdadeiras piscinas de água salgada,
perfeitas para crianças. As do lado norte também não deixam a desejar, mas
têm ondas mais fortes, indicadas para os surfistas.
Pôr-do-sol
Cansou
do mar? Reserve um dia para conhecer a curiosa história da fundação de João
Pessoa, que já nasceu cidade, ou seja, nunca passou pela condição de
"vila", e os prédios restaurados do centro histórico. O projeto
já dura uns 20 anos, mas a sensação é de que há muito ainda a fazer.
Para
fechar um dos dias da estada, faça um passeio diferente, na Praia do
Jacaré. Fluvial, fica às margens do Rio Paraíba, em Cabedelo,
a 12 quilômetros
de João Pessoa. Todos os dias, no pôr-do-sol (às 17 horas nesta época do
ano), Jurandy do Sax entoa o Bolero de Ravel num
barquinho durante 40 minutos, até chegar ao restaurante Brasilis,
um dos sete localizados na praia.
Jurandy pleiteia a entrada no Guinness Book, o Livro dos Recordes, como o músico que
mais vezes tocou a composição de Maurice Ravel
(1875-1937) em público. O processo está em andamento. "Toco o ano
inteiro. Se viajo, toco onde estou", diz Jurandy.
A
apresentação, que já dura sete anos, deu tão certo
que o músico "ganhou" um clone, o Arnaud, que se apresenta
acompanhado de um violino e chega de barco até o restaurante Golfinho. É,
digamos, uma atração para turista ver, mas, se depender da empolgação dos
visitantes durante a apresentação número 2.109 de Jurandy,
na semana retrasada, e da prefeitura, que tombou o pôr-do-sol da Praia do
Jacaré, vai continuar um sucesso. Só para lembrar, os artistas cobram R$ 3
de couvert artístico por pessoa.
Para
que você não perca nenhum atrativo de vista, preparamos, nas próximas páginas,
um roteiro por João Pessoa e pelas vizinhas Conde,
no litoral sul, e Cabedelo, rumo ao norte.
Aproveite para corrigir uma injustiça histórica com um dos mais belos e
desconhecidos pedaços do litoral nordestino.
Viagem
feita a convite da Prefeitura Municipal de João Pessoa